erro
A transição do lápis de carvão para a caneta é uma mudança importante na escola primária. Funciona como uma validação oficial do não-erro. A vida insurge-se então de forma abrupta e sem preliminares sobre a criança, cuja capacidade de concentração é questionável.
[“o mundo é imenso professora e eu não tenho hierarquias tudo é bom tudo é igualmente válido sob o meu olhar vou escolhendo naturalmente sem peso nem culpa na escolha o meu mundo não tem pontos finais nem vírgulas é uma imensidão fluida do tudo talvez as reticencias professora talvez se tenho de escolher opte pelas reticencias eu não preciso de pausas forçadas para descansar da vida acolho todos os estímulos do mundo e faço as minhas próprias pausas sem precisar de pensar eu sei que tudo o que digo tem de estar entre aspas porque não é a sério desculpe eu sei que está mal”]
O verbo na folha torna-se ditador: O Todo Poderoso que Dita a Nossa Grandiosidade ou a Nossa Pequenez. Os alunos só são autorizados a usar caneta a partir do momento em que a Professora diz:
[Já podes. Já não te enganas, nem borras tudo.]
E desde este momento borramos a vida.
Temos a confirmação oficial do CERTO através de um erro de semântica [e de mundo] básico.
[PARABÉNS, PROFESSORA. MERECE TODAS AS MAIUCULAS DO MUNDO.]