erro

A transição do lápis de carvão para a caneta é uma mudança importante na escola primária. Funciona como uma validação oficial do não-erro. A vida insurge-se então de forma abrupta e sem preliminares sobre a criança, cuja capacidade de concentração é questionável.

 

[“o mundo é imenso professora e eu não tenho hierarquias tudo é bom tudo é igualmente válido sob o meu olhar vou escolhendo naturalmente sem peso nem culpa na escolha o meu mundo não tem pontos finais nem vírgulas é uma imensidão fluida do tudo talvez as reticencias professora talvez se tenho de escolher opte pelas reticencias eu não preciso de pausas forçadas para descansar da vida acolho todos os estímulos do mundo e faço as minhas próprias pausas sem precisar de pensar eu sei que tudo o que digo tem de estar entre aspas porque não é a sério desculpe eu sei que está mal”]

 
Passerby, Flesh off, Jaeyeol Han, 2013

Passerby, Flesh off, Jaeyeol Han, 2013

 

O verbo na folha torna-se ditador: O Todo Poderoso que Dita a Nossa Grandiosidade ou a Nossa Pequenez. Os alunos só são autorizados a usar caneta a partir do momento em que a Professora diz:

 

[Já podes. Já não te enganas, nem borras tudo.]

 

E desde este momento borramos a vida.

 

Temos a confirmação oficial do CERTO através de um erro de semântica [e de mundo] básico.

 

[PARABÉNS, PROFESSORA. MERECE TODAS AS MAIUCULAS DO MUNDO.]

Patrícia

Patrícia Moreira nasceu em Lisboa em 1990. Licenciada em Tradução (Inglês e Castelhano) pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (2012) e Teatro (Actores) pela Escola Superior de Teatro e Cinema (2016). Complementou a sua formação académica com João Brites, Rui Pina Coelho e Eugénia Vasques. Vencedora do concurso literário “Belas Letras” organizado pelo Instituto Politécnico de Lisboa (2015) com o texto "Da Seiva e do Sal". Iniciou o seu percurso como actriz na Companhia Animateatro e colaborou com a Rugas Associação Cultural. Em cinema trabalhou com Pedro Cabeleira na longa-metragem "Verão Danado". Em 2019 co-criou com Diana Narciso o espetáculo "Mater Aviam". Co-fundadora do coletivo outro, co-criou e interpretou o espetáculo "as árvores deixam morrer os ramos mais bonitos". Em 2020 criou e interpretou a performance-instalação "SECRETUM" na Estufa Fria de Lisboa. Fundadora da Tremor Associação Cultural.

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